Coronavac é eficaz contra variante brasileira, aponta estudo
No Brasil, Coronavac é produzida no Instituto Butantan, em parceria com a Sinovac (Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP via Getty Images)
A Coronavac, vacina contra a covid-19 produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, é 50% eficaz contra a P1, variante brasileira do coronavírus. A efetividade do imunizante começa a valer a partir de 14 dias depois da primeira dose.
O índice de 50% diz respeito aos casos sintomáticos da covid-19. O grupo responsável pela pesquisa, Vebra Covid-19, considera os resultados encorajadores. Mais informações sobre o estudo serão divulgadas nesta quarta-feira (7).
A pesquisa envolveu 67.718 profissionais da saúde de Manaus. Os resultados da efetividade da vacina depois de 14 dias da segunda dose ainda estão sendo coletados e analisados.
Estudo de eficácia das vacinas
Os pesquisadores ainda vão avaliar a eficácia da Coronavac e a vacina da Oxford/AstraZeneca em idosos nas cidades e Campo Grande e Manaus, e em todo o estado de São Paulo.
O grupo Verba Covid-19 estuda eficácia das vacinas contra o coronavírus no Brasil e é integrado por pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, servidores da Secretarias de Saúde estaduais e municipais do Amazonas e de São Paulo.
Recorde de mortes por covid-19
O Brasil registrou 4.195 novas mortes pelo novo coronavírus e 86.979 casos da doença nesta terça (6). Com isso, o total de mortos chegou a 336.947 e o de casos a 13.100.580, de acordo com o painel atualizado pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), um sistema próprio de informações que reúne dados de contaminados e de óbitos em contagem paralela à do governo.
É a primeira vez que o Brasil registrou mais de 4 mil mortes em um único dia. Até o momento, o país tinha seis dias com mais de 3 mil mortes, cinco deles em março deste ano e um já em abril. O antigo recorde tinha sido registrado em 31 de março, com 3.869.
Como lidar com as novas variantes do coronavírus?
A forma de lidar com a nova variante não muda, de acordo com o médico infectologista José David Urbaéz, diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia do Distrito Federal e consultor da Sociedade Brasileira de infectologia.
Qual o grande problema de novas variantes?
Uma nova variante tem uma escala. Desde novembro de 2020, o Brasil tem praticamente todas as condições para ter essa nova variante. Uma vez que a variante consegue se desenvolver, epidemiologicamente se tem um problema muito sério, por quê? Porque se escalona para cima transmissibilidade e aumenta de maneira significativa o problema, que já era enorme.
Vírus mais transmissíveis têm como consequência quadros de infecções mais graves e afetam, inclusive, crianças e jovens. A variante mais recente que circula no Brasil tem o nome N9 e foi identificada por cientistas da Fiocruz na semana passada. As outras duas, chamadas de P.1 e P.2, foram identificadas há mais ou menos cinco meses e se espalharam pelo país.
O que muda com novas variantes?
O que vai mudar com essas novas variantes, segundo infectologistas, é essa demanda gigantesca para o sistema de saúde porque há um número crescente de pessoas que estão desenvolvendo quadros mais graves e que precisam de internação hospitalar e de suporte de UTI.
Apesar de falar muito em variante no Brasil, não se fala de segurança nos locais que a população precisa frequentar, como supermercados, farmácias e elevadores de condomínios.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou no dia 12 de março que o Brasil representa “um risco para todo o mundo”.
Quais são as novas variantes da covid-19?
Há informações de que uma nova variante, a N9, já foi detectada em várias macrorregiões brasileiras, exceto no Centro-Oeste. Isso tem que ser manejado com muito cuidado porque supostamente a gente está tendo só uma variante dominante, mas tem uma outra chamada P.2 também (descoberta no Rio de Janeiro). O sistema de vigilância genômico do Brasil ainda é muito precário. Não temos um sistema epidemiológico de detecção para inferir a magnitude da circulação dessas variantes. Então, pode ser que no Brasil já existam outras variantes em desenvolvimento.
No caso da P.1 (descoberta em Manaus), estudos apontam que essa cepa do coronavírus é mais transmissível por causa mutações que sofre na região que o vírus usa para infectar as células humanas.
A transmissibilidade da P.1 também é alta, ou seja, transmite muito mais do que o vírus de 2020. Consequentemente, o número de infectados tende a ser maior.
O infectologista lembra que no atual momento da pandemia o número de vírus que se replica tende a ser infinito. E não tem como quantificar além de um certo número porque não tem mais número. Tende quase a ser infinito por conta das possibilidades gigantescas de mutações todo dia provocadas, e numa dessas o vírus descobre uma via mais perfeita para se transmitir.
Como surgiram as novas variantes?
Hoje pode-se dizer que o Brasil é um laboratório a céu aberto, como falaram vários outros pesquisadores, de evolução do vírus em todas as suas dinâmicas. É uma ameaça para o mundo porque aqui há uma variedade de variedades, sabe-se lá até quando e como e por onde elas terão consequências que nunca vão ser quando variável, se entra como dominante. Tudo isso porque foi uma variável que conseguiu descobrir vantagens para ela.
Praticamente, todos os dias existem variantes. Mas habitualmente, conforme detalha o infectologista, as variantes têm mutações não dão vantagem alguma. Já quando há uma variante que apresenta alguma vantagem ela começa a “andar melhor”.
Na prática, todos os dias as pessoas estão na presença de novas variantes, mas nem todas “vingam” e, consequentemente, não se manifestam.
Mas em algum momento acontece como no velho ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. O país tem potencial de desenvolvimento de variantes que em algum momento pode colocar em risco a estratégia de vacinação contra a Covid-19. Felizmente, ainda não se tornou uma ameaça. Mas se continuar dessa forma é provável que aconteça.
Onde surgiram as novas variantes?
Existe uma sensação de que o primeiro – e talvez o mais grave – fator que deflagrou a segunda onda devastadora em Manaus foi a falta de medidas de restrição. Passada a primeira onda da pandemia, as pessoas circulavam livremente. Outro ingrediente para se somar a esse caos a falta de uma estrutura de assistência suficiente para uma hecatombe dessas.
Então, criaram-se condições de uma onda muito grande e depois de um tempo os anticorpos já não funcionavam. Tudo isso se soma e pode-se dizer que foi feito de tudo para que a variante aparecesse. Mas nunca pode dizer que um fenômeno epidemiológico de uma alça de ampliação muito grande tenha apenas um componente. A variante é um componente importante, mas o que se repara na população, infelizmente, é que há uma tendência a querer simplificar tudo que está acontecendo neste ano com a pandemia de Covid-19 no Brasil. Todo horror diariamente vividos, toda catástrofe com média de 2 mil mortes diariamente, toda essa tragédia não podem ser creditadas a uma variante. Não é de maneira alguma. A variante apenas se somou ao péssimo manejo da pandemia.
Até o dia 12 de março, segundo o boletim do Imperial College de Londres, no Reino Unido, a taxa de transmissão no Brasil estava em 1,14. Isso significa que cada 100 pessoas com o vírus no país infectam outras 114.