Gazeta Itaúna

Dr. Austenir esclarece número de óbitos no CTI Covid em Itaúna em resposta à matéria veiculada em jornal neste fim de semana

Dr. Austenir esclarece número de óbitos no CTI Covid em Itaúna em resposta à matéria veiculada em jornal neste fim de semana

Carta Aberta â População de Itaúna

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará…”

Em resposta a matéria publicada no Jornal Folha do Povo Edição 134 com o título “CTI Covid em dúvida” julgo necessário esclarecimentos técnicos imediatos sob pena de sobrecarregar a população com pânico adicional frente a uma situação já por demais angustiante que tem sido a pandemia do COVID.

Diferentemente dos “cidadãos” e dos “profissionais da área médica em off” citados na reportagem faço questão de me apresentar. Meu nome é Austenir Maciel Coelho, sou médico, trabalho no Hospital Manoel Gonçalves de Sousa Moreira desde 2003, resido em Itaúna desde 2007 e sou o responsável técnico pelo Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Manoel Gonçalves desde 2011.

Estou envolvido no enfrentamento a pandemia do COVID-19 desde dezembro de 2019 tendo participado de inúmeras reuniões técnicas de planejamento e envolvido diretamente na implementação da unidade COVID I em abril de 2020 e na unidade COVID II em maio de 2021. Elaborei ainda o Protocolo para Atendimento dos pacientes graves na unidade CTI-COVID e atuo diariamente na assistência direta aos pacientes. (Linha de Frente).

Agora sim, os fatos.

Primeiramente não recebi nenhum contato do Jornal Folha do Povo sobre a matéria publicada. Não é difícil me encontrar. Passo praticamente metade da minha vida no Hospital (Av Dr Miguel Augusto Gonçalves 1902).

Com relação aos dados. Não há uma caixa preta. Os dados do Hospital Manoel Gonçalves são divulgados diariamente desde maio de 2020 de segunda a sexta-feira. Ressalto que por uma questão de sigilo médico dados adicionais dos pacientes não podem ser tornados públicos. Os dados do município estão a disposição de todos no na página online da Prefeitura. Na realidade os dados epidemiológicos nunca foram de tão fácil acesso. Basta uma simples consulta online.

Com relação a “parece que oitenta por cento das pessoas que entram no CTI de Itaúna não resistem”. Infelizmente estamos diante de uma doença de alta transmissibilidade e com uma parcela de pacientes graves que realmente tem uma alta chance de óbito. Da pequena parcela dos infectados que precisam de atendimento no CTI por dificuldade respiratória, os que são entubados tem uma mortalidade nessa faixa sim. E isso não é em Itaúna. O maior estudo epidemiológico sobre pacientes 1graves com COVID no Brasil foi realizado entre fevereiro e agosto de 2020 e publicado no jornal médico Lancet em janeiro de 2021 e os dados naquele momento eram de uma mortalidade de 80% para os pacientes com COVID em suporte ventilatóirio invasivo (ventilação mecânica). Ressalto que desde de fevereiro de 2021 tenho observado uma mudança na perfil da doença com infecções mais agressivas ainda.

Infelizmente é uma triste realidade: pacientes com infecção por COVID que necessitam de suporte ventilatório mecânico tem uma alta taxa de mortalidade sim. E isso apesar de todos os esforços terapêuticos, protocolos, medicamentos, suporte ventilatório, tratamento dialítico, cuidados de enfermagem, fisioterapia, enfim, tudo.

Agora vamos aos dados de mortalidade e aqui vou usar números que qualquer pessoa pode retirar diretamente da internet sem maiores dificuldades.

Farei uma comparação entre Itaúna, Belo Horizonte e Divinópolis que são centros maiores e melhor estruturados.

Em Itaúna no Boletim divulgado pela Prefeitura em 16/06/2021 temos: 10.647 casos com 236 óbitos confirmados para uma população segundo o IBGE de 93.847 habitantes.

Em Belo Horizonte no Boletim Epidemiológico divulgado pela Prefeitura em 16/06/2021 temos: 224.976 casos com 5487 óbitos para uma população de 2.722.000 habitantes.

Em Divinópolis nos dados referentes ao dia 16/06/2021 temos 14.389 casos com 467 para uma população de 240.408 habitantes. Analisando os dados temos:

1. O número de casos de COVID por 100.000 habitantes na população de Itaúna é 37% maior do que em Belo Horizonte e 99% maior do que em Divinópolis. Consequentemente esperava-se que o número de óbitos por 100.000 habitantes seguisse a mesma proporção. Na realidade o número de óbitos por 100.000 habitantes é 24% maior em Itaúna do que em Belo Horizonte e 29% maior do que em Divinópolis.

2. Dos pacientes que adoecem com COVID a mortalidade dos mesmos é menor em Itaúna do que nas outras duas cidades. Ou seja, se você adoecer de COVID em Itaúna você tem uma chance de 2,2 % de morrer e essa chance ainda é menor do que se você tivesse adoecido nas outras cidades.

A conclusão inevitável: morre-se mais de COVID em Itaúna porque adoecemos mais de COVID em Itaúna.

Não é um problema de assistência hospitalar. Pelo contrário. Uma menor letalidade significa que estamos no caminho certo nos cuidados dos paciente graves que nos são confiados.

Temos trabalhado diuturnamente e exaustivamente para prestar uma assistência adequada aos pacientes graves de nossa cidade e os números colocados acima são o fruto do apoio e dedicação incondicional da equipe multiprofissional do nosso Hospital.

Aproveito a oportunidade para agradecer a cada profissional do nosso Hospital que tem colocado a vida de outro acima da sua. Fica o meu reconhecimento a cada um de vocês. Força e Fé.  Sigamos pois essa Guerra é nossa.

Nunca é demais lembrar que nossos únicos aliados nessa guerra são: distanciamento social, lavagem de mãos, uso correto de máscaras e vacinação.

Austenir Maciel Coelho.

Itaúna, 19 de junho de 2021.

Responsável Técnico CTI HMG

Redação

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