Morre menina de seis anos que estava internada em estado grave no RJ após sofrer agressões
Criança era espancada pela mãe e pela companheira, ora custodiadas, com socos e chutes por diversas vezes, além de ser arremessada contra a parede e contra um barranco de 7 metros de altura e ser chicoteada com um cabo de TV”, diz trecho da sentença do juiz. FOTO: Isabelle Magalhães/TV Rio Sul/Divulgação
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Morreu na madrugada deste sábado (24) a menina de seis anos que estava internada em estado grave no município de Resende, no interior do Rio de Janeiro, após sofrer agressões. A mãe e a madrasta são suspeitas de torturá-la e estão presas.
Segundo boletim médico, Ketelen Vitória Oliveira da Rocha sofreu parada cardiorrespiratória por volta das 3h30. Internada desde segunda (19) em um hospital particular na cidade, a criança estava em coma, com ausência de reflexos e múltiplas lesões corporais agudas e crônicas. Nas últimas 24 horas, ela sofreu deterioração das funções vitais e apresentou hipotermia, hipotensão arterial e diminuição urinária. O corpo de Ketelen foi encaminhado ao Posto Regional de Polícia Técnico-Científica (PRPTC) de Resende para ser necropsiado.
Em decisão expedida após audiência de custódia na quinta (21), o juiz Marco Aurélio Adania considerou que as investigações apontaram contínuas agressões à criança pela mãe, Gilmara Oliveira de Farias, 28, e pela madrasta, Brena Luane Barbosa Nunes, 25, e decretou a prisão preventiva das duas. Elas moravam juntas no município de Porto Real desde julho do ano passado e, segundo a polícia, confessaram o crime à 100ª DP (Porto Real), que investiga o caso.
“Consta dos autos que a vítima teria sido espancada pela mãe e pela companheira, ora custodiadas, com socos e chutes por diversas vezes, além de ser arremessada contra a parede e contra um barranco de 7 metros de altura e ser chicoteada com um cabo de TV”, diz trecho da sentença do juiz.
O velório e enterro acontecerão neste domingo (25) a partir das 13h30 no Cemitério Municipal de Engenheiro Pedreira, em Japeri (região metropolitana do Rio), segundo a Prefeitura de Porto Real, que vai custear as despesas com hospital e funerária. O pai da criança, que não teve a identidade divulgada, foi ao IML para liberar o corpo.
Segundo a apuração da polícia, as agressões começaram na noite daquela sexta-feira (16) e continuaram até o fim da noite de domingo (18), sendo que o socorro só foi chamado na segunda. As investigações também apontam que a criança não estava sendo alimentada há meses.
Procurada neste sábado, a Polícia Civil informou que aguarda o resultado do laudo de necropsia para confirmar a causa da morte e que realizou uma perícia no local das agressões na sexta (23), além de ter ouvido outras testemunhas que confirmaram a prática de tortura. A própria mãe da madrasta, Rosangela Nunes, 50, admitiu à Folha nesta sexta (23) que a criança vivia uma rotina de violência e privações na casa onde moravam todas juntas.
Segundo ela, que responde em liberdade por omissão, a criança teve bonecas queimadas, brinquedos quebrados e era impedida de comer. Também contou que a menina foi agredida com pedaços de pau, um cabo de fibra óptica e chegou a ser impedida de ir ao banheiro como castigo por abrir três caixas de leite. “A mãe dela [Gilmara] deu uma chinelada primeiro na menina, mas depois a Brena [a madrasta] deu chutes, bateu nela com um pau, com um cabo e ainda bateu a cabeça dela na parede. A Gilmara também batia. Quando as duas se trancavam no quarto, eu dava comida escondida para a menina”, disse.
Na segunda-feira, depois das agressões, a menina estava sem reação, segundo Rosangela. Ela ficou mole, sem falar e com o olho meio aberto, então Gilmara pediu socorro ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
A mãe disse aos médicos que pedaços de madeira tinham caído na criança. Rosangela diz não ter denunciado a filha por medo. Ela conta que sempre era agredida por Brena e que a última vez foi no Ano-Novo: “Ela me bateu com pedaço de pau. Bateu na minha barriga e tive até hemorragia na vagina. Também precisei dar pontos no dedo. Ela também deu socos no rosto da minha mãe de 86 anos. Dizia que, se a polícia aparecesse, mataria a gente”. Após ficar sabendo da morte da criança pela televisão neste sábado, a dona de casa reafirmou à Folha que, além dela, apenas a avó de Brena presenciava as agressões contra a menina. A idosa, que é acamada, prestou depoimento à polícia em casa. Elas não conhecem o pai nem outros familiares de Ketelen.
Fiquei muito triste mesmo. A Brena e a Gilmara são dois monstros. Eu queria contar sobre a menina para alguém, mas a Brena disse que mataria minha mãe e eu, disse Rosangela, acrescentando que os vizinhos sabiam que ela era agredida pela filha.
A Brena teve outra mulher antes da mãe da menina. Ela me bateu muito quando tiveram uma briga no Carnaval de 2018. Fiquei ensanguentada. Dessa vez, pedi a ajuda da vizinha. Também dei queixa dela na delegacia, mas nada aconteceu, relatou.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa das suspeitas. A Defensoria Pública do Rio informou que participou da audiência de custódia das mulheres presas preventivamente por suspeita de tortura, mas, como ainda não há ação penal em curso, o órgão não foi formalmente constituído para o caso.
Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/morre-menina-seis-anos-que-225800957.html