UFMG: Vacina para dependência de cocaína e crack é finalista em prêmio de inovação tecnológica
Foto: Faculdade de Medicina da UFMG
Votação é aberta a médicos de 17 países da América Latina
A vacina terapêutica para o tratamento da dependência em cocaína e crack, em desenvolvimento na Faculdade de Medicina da UFMG, é finalista do Prêmio Euro Inovação na Saúde. O projeto já concluiu as etapas pré-clínicas, em que foi constatada segurança e eficácia para tratamento da dependência e prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição à droga durante a gravidez em animais.
Atualmente não existem tratamentos registrados em agências regulatórias para essas dependências. As alternativas disponíveis são comportamentais ou usam medicamentos com função sintomática, ou seja, que ajudam a tolerar a abstinência ou diminuir a impulsividade.
“Esse é um problema prevalente, vulnerabilizante e sem tratamento específico. Os nossos estudos pré-clínicos comprovam a segurança e eficácia da vacina nesta aplicação. Ela aporta uma solução que permite aos pacientes com dependência se reinserir socialmente e voltar a realizar seus sonhos”, explica o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina e pesquisador responsável, Frederico Garcia.
O crack e a cocaína são consumidos por mais de 18 milhões de pessoas no mundo, segundo o Escritório da ONU para Drogas e Crimes. Desse total, 25% vão se tornar dependentes, sendo o Brasil o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos.
O medicamento desenvolvido na UFMG induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Essa ligação transforma a droga numa molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica. “Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, aponta o pesquisador.
Outra possibilidade de uso foi observada nos testes em ratas grávidas, que produziram níveis significativos de anticorpos “A vacina impediu a ação da droga sobre a placenta e o feto. Observamos menos complicações obstétricas, maior número de filhotes e maior peso do que as não vacinadas”, relata o professor Frederico.
Ele explica que uma vacina para a prevenção primária de transtornos mentais – como no caso da proteção aos fetos gerados por dependentes de cocaína grávidas que forem vacinadas – seria inédita na psiquiatria. A patente já foi depositada pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG.
A proposta visa enfrentar a dependência em cocaína e seus derivados, como o caso do crack, que é uma mistura da substância com bicarbonato de sódio ou amônia. O projeto já concluiu os testes pré-clínicos e busca financiamento para avançar até a etapa com humanos. “Até então, este projeto foi inteiramente desenvolvido com recursos governamentais. Para restaurar a liberdade das pessoas com dependência e prevenir as consequências fetais precisamos dar início nos estudos com humanos. Acreditamos que o prêmio Euro pode viabilizar esse sonho”, completa o professor.
Para votar é necessário ser médico com registro em um dos países com participação da farmacêutica financiadora da premiação.
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Publicado por Medicina – UFMG