EctoLife: a primeira instalação de úteros artificiais do mundo
(Fonte: Hashem Al-Ghaili/Youtube/Reprodução)
Júlio Cezar de Araújo – Em 1985, quando a escritora canadense Margaret Atwood publicou O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale, no original), ela explorou um fantasma que assombra a sociedade há muito tempo: a infertilidade. Além das estruturas sociais, do machismo e patriarcado que permeiam a questão; no âmbito socioeconômico, a queda na taxa de natalidade está associada ao medo de uma queda populacional e a necessidade de fortalecer uma cadeia no futuro.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos Estados Unidos, uma em cada cinco mulheres heterossexuais de 15 a 49 anos, sem filhos anteriores, não consegue engravidar após um ano de tentativas. Além disso, cerca de 26% delas têm dificuldade em engravidar ou levar uma gravidez até o fim.
Um em cada quatro casais nos países desenvolvidos é afetado pela infertilidade, e cerca de 48,5 milhões de casais sofrem de infertilidade em todo mundo, que está associada a inúmeros fatores, desde maus hábitos presentes no estilo de vida da população até o envelhecimento da mesma.
Foi antevendo essa questão que Hashem Al-Ghaili criou o EctoLife, a primeira instalação de úteros artificiais do mundo.
Um olhar para o futuro
O projeto viralizou após um vídeo divulgado, principalmente pelo Facebook, apresentando uma instalação capaz de incubar em laboratório até 30 mil bebês por ano. Al-Ghaili é um produtor, cineasta e comunicador de ciência, e desenvolveu o que chamou de EctoLife, a princípio, apenas como um projeto conceitual que ofereceria uma alternativa para os pais que sofrem com infertilidade – mas não para por aí.
Também seria possível a produção de bebês personalizados com a ajuda desses úteros artificiais. Em um Pacote Premium desenvolvido por Ghaili, seria possível que as pessoas escolhessem o nível de inteligência, altura, cabelo, cor dos olhos, força física e até o tom de pele do futuro filho.
A instalação funcionaria com energia renovável para abrigar os 75 laboratórios, cada qual equipado com até 400 cápsulas de crescimento, ou úteros artificiais, projetados para fornecer o mesmo ambiente presente no útero de uma mulher.
Os pais poderiam acompanhar o crescimento e desenvolvimento do bebê por uma tela nas máquinas que exibiriam dados em tempo real. Este que poderiam ser também monitorados por meio de um aplicativo no telefone.
Uma questão de tempo
O conceito da EctoLife desenvolvido por Al-Ghaili foi com base em mais de 50 anos de pesquisas científicas inovadoras por profissionais do mundo todo e, ainda que seja, por enquanto, uma ideia puramente fictícia, está apoiado em algo que já acontece na ciência.
Em 2017, neonatologistas do Hospital Infantil da Filadélfia estudaram a viabilidade de desenvolver vida fora do útero durante uma pesquisa com cordeiros extremamente prematuros. Foi criado um ambiente semelhante ao útero durante o procedimento em um dispositivo capsular que teve resultados melhores do que os cientistas imaginavam.
(Fonte: Hashem Al-Ghaili/Youtube/Reprodução)
A proposta de úteros artificiais fornece uma solução para pacientes com câncer que tiveram seus úteros removidos, por exemplo. Além disso, podem reduzir as complicações de uma gravidez e ajudar os países em declínio populacional, como o Japão, Bulgária e Coreia do Sul.
Al-Ghaili acredita que a tecnologia que propôs já está pronta e que poderemos ver esse tipo de instalação em menos de 10 anos. Ele tem o apoio dos especialistas da área, mas tudo isso depende se até lá as restrições éticas sobre a prática forem removidas. Esse relaxamento, inclusive, é o que determinará a adesão das pessoas à nova tecnologia.
Publicado por Mega Curioso