Gazeta Itaúna

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Economizar água é esbanjar inteligência

Economizar água é esbanjar inteligência

Prof. Arnaldo de Souza Ribeiro*
“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas”. Cora Coralina

Depois de aproximadamente três anos, motivado pelas limitações e prudência que os tempos pandêmicos recomendaram, retorno a Ouro Preto. Esta trissecular cidade impressiona e surpreende os turistas, pelas suas belezas naturais, pelo seu clima privilegiado, pelas histórias materializadas nas vidas e nas obras de seus heróis, poetas, arquitetos e pela simpatia de seu povo. Em Ouro Preto é possível reviver o passado, viver o presente e projetar o futuro. Prova desta assertiva encontra-se no que presenciei nesta viagem.
Quando concluí o preenchimento da ficha de ingresso no Hotel Solar de Maria, fui orientado pela atendente que o hotel utiliza aquecedor solar e a gás, o que faz demorar um pouco o aquecimento da água do chuveiro. Por essa razão, próximo a ele, encontra-se um balde para recolher a água fria, que será utilizada no dia seguinte para limpeza.
Surpreso, vieram-me à mente os ensinamentos de Loren Eiseley, em seu livro “O Arremessador de Estrelas”, em que relata que um jovem recolhia estrelas-do-mar da areia e, uma por uma, as jogava de volta ao oceano. Quando perguntado o porquê daquele trabalho, assim respondera: “que a maré estava baixa, que o sol brilhava e que elas secariam e morreriam se ficassem na areia”.
No que fora advertido pelo interlocutor: “existem milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela praia. Você joga algumas de volta ao oceano. A maioria ficará e morrerá”.
Ao que respondeu: “para aquelas que lancei ao mar, eu fiz a diferença”.
Diante daqueles argumentos, somados a uma noite não dormida, na manhã seguinte, o interlocutor voltou à praia e encontrou o jovem e, juntos, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano.
Ao chegar ao quarto, percebo o balde e também outras advertências escritas em português, espanhol e inglês, fixadas na parede:
“Senhores hóspedes. Gostaríamos de sua adesão para o nosso programa de economia de água. Com isso disponibilizamos baldes para que sejam utilizados enquanto a água do chuveiro não esquenta. Essa água será utilizada pelas nossas funcionárias para lavar o box. Lembre-se também de fechar a torneira enquanto escova os dentes, faça o uso consciente da água. Economizar água é esbanjar inteligência.”
Com o necessário respeito à proporcionalidade, o balde está para o consumo e desperdício de água, assim como a estrela-do-mar estava para a imensidão das praias. Ou seja, não se deve considerar o caráter quantitativo e, sim, o conscientizador e, sobretudo, a necessidade de preservar os recursos naturais, em especial a água, fonte de preservação de todos os seres vivos.
Para se ter ideia da gravidade e do aumento dos gastos dos recursos naturais, tome-se por referência o Dia da Sobrecarga da Terra. Estudos iniciados em 1971 mostram que, naquele ano, ocorrera no dia 21 de dezembro e no ano 2021, no dia 29 de julho. Desse modo, estamos a gastar mais que a natureza é capaz de produzir. Portanto, a sobrevivência na terra vincula-se a redução de consumo dos recursos naturais e a reciclagem.
Neste aspecto louva-se a iniciativa do proprietário do Hotel Solar de Maria, na pessoa de seu proprietário, Dr. Roberto Morais e funcionários.
Conforme já predissera com sabedoria Cora Coralina: “Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas”.
Pelo que foi visto e pelos comentários que foram deixados no livro dos hóspedes que se encontra na recepção, muitos se manifestaram e elogiaram pela conscientização do uso da água. Prova que essa atitude tocou o coração e a consciência de muitas pessoas, assim como tocou e ainda tocam as atitudes dos heróis, dos poetas e dos arquitetos que aqui passaram e viveram no passado.
Ouro Preto – MG, 15 de outubro de 2022.

*Prof. do curso de direito da Universidade de Itaúna – UIT, Presidente da Academia Itaunense de Letras – AILE, membro da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa – ACLGR, Acadêmico Correspondente Nacional da Academia Formiguense de Letras – AFL, do Instituto de Direito de Língua Portuguesa – IDILP e da Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa – CJLP, Lisboa.

Redação

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