PF nega ter achado corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips
A Polícia Federal negou, na manhã desta segunda-feira (13), ter localizado os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos no Vale do Javari, no oeste do Amazonas, desde o último dia 5.
“O Comitê de crise, coordenado pela Polícia Federal/AM, informa que, não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips”, declarou a corporação.
Em nota, a PF disse que “conforme já divulgado, foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados e os pertences pessoais dos desaparecidos. Tão logo haja o encontro, a família e os veículos de comunicação serão imediatamente informados”.
Pouco antes, o jornalista André Trigueiro, do canal GloboNews, afirmou ter recebido informações da mulher de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, de que os corpos teriam sido localizados e as mortes confirmadas.
Em seguida, o embaixador do Reino Unido no Brasil, Francis Vijay, declarou ao The Guardian que os corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips foram encontrados amarrados em uma árvore.
Em entrevista ao The Guardian, o cunhado de Phillips, Paul Sherwood, declarou que a embaixada passou a informação. “Ele [embaixador] disse que queria que nós soubéssemos que eles tinham encontrados dois corpos. Ele não descreveu o local e disse que ele estavam amarrados a uma árvore e que ainda não foram identificados”, disse.
Mochila e pertences encontrados
A Polícia Federal informou, na noite de domingo (12), que encontrou uma série de pertences dos dois. Mais cedo, o Corpo de Bombeiros havia informado a localização de uma mochila. Agora, a PF informa que foram encontrados os seguintes itens: um cartão de saúde, uma calça preta, um chinelo preto e um par de botas pertencentes a Bruno e um par de botas de Dom.
A polícia também confirma que a mochila, da marca Equinox, é de Dom e continha roupas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, os objetos foram achados por mergulhadores. A mochila estava amarrada a uma árvore, em uma área de igapó.
Indígenas localizam barco
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou neste domingo (12) ter encontrado uma nova embarcação na mesma região em que são realizadas as buscas. Horas depois, a PF confirmou a informação. Os dois estão sendo procurados na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares.
“O que a equipe de busca encontrou foi um possível local onde vestígios, observados na beira de barranco, apontam que uma embarcação poderia ter sido arrastada no local. Essa informação foi repassada às autoridades responsáveis pelas investigações e, por essa razão, o local foi isolado pelas autoridades competentes para que a busca e a perícia sejam realizadas”, diz o informe assinado pelo procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo.
Ainda segundo o comunicado, nas proximidades do local foi encontrada também uma embarcação que pode ser de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, detido para investigação. “A informação sobre a propriedade da embarcação ainda precisa ser confirmada pelos responsáveis pelas investigações”, ressalta o documento.
Material genético encontrado
Na última sexta-feira (10), a Polícia Federal (PF) no Amazonas, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. Ainda não há informação se a amostra recolhida tem alguma relação com o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira.
O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal realiza a análise pericial do material recolhido, e também fará a perícia em vestígios de sangue encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como “Pelado”.
Ele é suspeito de envolvimento no caso e teve a prisão temporária por 30 dias decretada na noite de quinta-feira (9) pela juíza plantonista Jacinta Santos, durante a audiência de custódia na Comarca de Atalaia do Norte (AM). O processo segue em segredo de justiça.
Além dessas perícias, serão analisados materiais genéticos coletados por investigadores de referência de Dom Phillips, em Salvador, e de Bruno Pereira, no Recife. As amostras serão utilizadas na análise comparativa com o sangue encontrado na embarcação.
Suspeito preso
Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira (9). Ele foi preso por porte e munição de uso restrito. Uma testemunha ouvida pelo Brasil de Fato afirmou que “Pelado”, como ele é conhecido, ameaçou os dois um dia antes do desaparecimento. Segundo o relato, ele apontou duas armas para o grupo com o qual Pereira e Philips estavam e disse, “vocês vão levar tiros.”
“Nós chegamos à nossa base [de fiscalização], em frente a um lago de nome Jaburu. O senhor ‘Pelado’ passa beirando a nossa canoa com uma cartucheira de mais ou menos uns 30 cartuchos. Nós fizemos o vídeo e fizemos fotos. O repórter [Dom Philips] tirou foto e filmou. Todo o material estava em nossas mãos para tentar incriminar esse invasor”, contou a testemunha.
Manifestações
Neste domingo (12), manifestações pedindo agilidade nas buscas foram realizadas no Rio de Janeiro, em Salvador e em Belém. Dom Philips é casado com uma brasileira e reside na capital baiana. Os sogros dele e outros parentes da esposa vivem no Rio de Janeiro. Além da presença de familiares e amigos, os protestos foram acompanhados por artistas, militantes e ativistas.
No sábado (11), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) aprovou um pedido de medida cautelar cobrando ações urgentes sobre o caso.
Phillips e Pereira navegavam de uma comunidade ribeirinha até o município de Atalaia do Norte quando desapareceram. O indigenista acompanhava o repórter, que apurava informação para um livro no qual estava trabalhando, com o título “Como Salvar a Amazônia”.
Os moradores do Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, sofrem com intensas invasões, principalmente de pescadores ilegais, que lucram alto com peixes valorizados, como o Pirarucu. A carne é consumida nas cidades do entorno e contrabandeada para fora do país.
Publicado por Brasil de Fato